DIA: Quarta-Feira
CORES: Vermelho (ou marrom) e branco
COMIDA: Amalá
SÍMBOLOS: Oxés (machados duplos), Edún-Àrá, xerê
ELEMENTOS: Fogo (grandes chamas, raios), formações rochosas.
DOMÍNOS: Poder estatal, justiça, questões jurídicas.
SAUDAÇÃO: Kawó Kabiesilé!!
Nem seria preciso falar do poder de
Xangô (Sòngó), porque o poder é a sua síntese. Xangô nasce do poder morre em
nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível. O prazer de Xangô é o poder.
Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é
rei entre todos os reis. Não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum
possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da
religião e é o orixá mais velho, goza de certa primazia. Contudo, se preciso
fosse escolher um orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse
papel?
Xangô gosta dos desafios, que não
raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém
o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A maneira como todos devem se referir
a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um
Elefante-de-olhos-tão-grandes-quanto-potes-de-boca-larga: esse é Xangô e, se o
corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o
Elefante-que-manda-na-savana, imponente, poderoso.
Percebe-se que a imagem de poder está
sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se
tornado o quarto alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos
iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio
meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade paciente e
tolerante do irmão irritavam Xangô e, certamente, o povo de Òyó, que o apoiou
para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.
O trono de Òyó já pertencia a Xangô
por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia.
Ele só fez apressar a sua ascensão. Xangô é o rei que não aceita contestação,
todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser
conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande alafim de
Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súbditos, tomou as decisões mais
acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando,
persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de
justiça muito apurado.
Não erram, como se viu, os que dizem
que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da
repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura
ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular.
Em outros termos, o déspota reflecte a imagem de seu povo, e este ama o seu
senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por
assumir a postura de um pai. No caso de Xangô, sua rectidão e honestidade
superam o seu carácter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre
justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu
estilo, não por maldade.
Fato é que não se pode falar de Xangô
sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também
detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da
natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o
céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o
caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram
seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.
Tudo que se relaciona com Xangô
lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A
cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis
pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho
original, o seu tapete.
Xangô sempre foi um homem bonito
extremamente vaidoso, por isso conquistou todas a mulheres que quis, e, afinal,
o que seria um ‘olhar de fogo’senão um olhar de desejo ardente? Quem resiste ao
olhar de “flirt” de Xangô?
Xangô era um amante irresistível e
por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a
única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o
domínio sobre o fogo.
Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.
Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.
A terceira esposa de Xangô foi Oba,
que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi
capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei.
Xangô decide sobre a vida de todos,
mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais
poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.
Características dos filhos de Xangô
É muito fácil reconhecer um filho de
Xangô apenas por sua estrutura física, pois seu corpo é quase sempre muito forte,
com uma quantidade razoável de gordura, apontando a sua tendência à obesidade;
mas a sua boa constituição óssea suporta o seu físico avantajado. Há também os
magros e muito elegantes.
Com forte dose de energia e
auto-estima, os filhos de Xangô têm consciência de que são importantes e
respeitáveis, portanto quando emitem sua opinião é para encerrar
definitivamente o assunto. Sua postura é sempre nobre, com a dignidade de um
rei. Sempre andam acompanhados de grandes comitivas; embora nunca estejam sós,
a solidão é um de seus estigmas.
Conscientemente são incapazes de ser
injustos com alguém, mas um certo egoísmo faz parte de seu arquétipo. São
extremamente austeros (para não dizer sovinas), portanto não é por acaso que
Xangô dança alujá com a mão fechada. Gostam do poder e do saber, que são os
grandes objectos de sua vaidade.
São amantes vigorosos, em seu lado
negativo, pobre das mulheres cujos maridos são de Xangô. Um filho de Xangô está
sempre cercado por amigos, auxiliares, no caso de governantes, empresários, mas
a tendência é que aqueles que decidem ao seu lado sejam sempre homens.
Os filhos de Xangô são obstinados, agem com
estratégia e conseguem o que querem. Tudo que fazem marca de alguma forma sua
presença; fazem questão de viver ao lado de muita gente e têm pavor de ser
esquecido, pois, sempre presentes na memória de todos, sabem que continuarão
vivos após a sua ‘retirada estratégica’.
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